Se você é uma pessoa observadora e tem um estilo mais “outdoor” já deve ter se feito essa pergunta. O intento do nosso texto é exatamente este! Tentar responder à essa interrogação e falar um pouco mais sobre o curioso bichinho que ilumina as noites do nosso cerrado.

Na minha infância, esses pequenos e exuberantes animais faziam parte da paisagem noturna dos sítios e fazendas. Passava horas tentando captura-los com um pequeno recipiente de vidro vazio de maionese, ao final da “caçada” estava com o frasco repleto de vaga-lumes ou “pisca piscas”, assim também chamados por aqui. A melhor parte da brincadeira era solta-los novamente. Realmente algo cinematográfico. Dezenas de pontinhos de luz, todos juntos, formando um pontilhado luminoso no céu capaz de encantar os olhos de qualquer criança.
Alguns meses atrás tentei repetir a proeza da minha meninice, agora na companhia de meu filho mais novo. Para minha surpresa e frustração os campos do nosso sítio estavam vazios, entregues a mais completa escuridão. A verdade é que estamos diante de um processo de extinção silencioso, triste e aparentemente irreversível. Por incrível que pareça, há muitos artigos e trabalhos científicos que pautam o assunto, embora pouco divulgados e explorados pela mídia local e nacional.
O nosso cerrado, em se tratando de vaga-lumes é o “Éden” desses bichinhos. Temos dezenas de espécies nativas em nosso bioma. Possuímos ainda o privilégio de abrigar um dos mais raros e vivazes fenômenos da natureza. A “bioluminescência do cerrado”, uma das atrações turísticas mais lindas do Centro-Oeste brasileiro. Na região do Distrito Federal e em parte do Estado de Goiás, alguns cupinzeiros ficam repletos de larvas de vaga-lumes, que, com suas luzes atraem mariposas e assim garantem uma bela refeição noturna. Imagina! Você caminhando por um campo, à noite e na presença de vários cupinzeiros iluminados. Cena digna de um filme de Spielberg, não acha!? Mas para a nossa consternação esse fenômeno maravilhoso e singular assim como a presença dos vaga-lumes na natureza estão com os dias contados. O uso indiscriminado de agrotóxicos em lavouras, o crescente desmatamento e as queimadas estão entre as principais causas do desaparecimento desses insetos. Os ambientes cada vez mais iluminados artificialmente também podem confundir os bichinhos, já que usam sua bio iluminação para encontrar parceiros.
Existem pesquisas que apontam a importância dos vaga-lumes para além do equilíbrio dos ecossistemas. Há indicativos de que as proteínas produzidas por esses animais podem ter grande relevância para a medicina, na prevenção e tratamento de algumas doenças. Portanto, termino o texto deste mês com um alerta e um apelo. Leve seu filho para conhecer um vaga-lume, compartilhe essa experiência com ele. Acredito que nossas crianças serão os divisores de água entre a extinção e preservação de várias espécies de animais e vegetais. Se nada for feito as imagens que temos de nossa infância, serão para nossos filhos apenas cenas de um filme de ficção científica. Na Estância São Bento-Chácara para alugar, entre os meses de outubro e dezembro ainda é possível ver vaga-lumes trafegando pelo sítio ao cair da noite. Infelizmente, não na quantidade de outrora. Mas assim mesmo é uma bela visão para ser admirada e guardada em nossas lembranças com muito carinho.
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