A finitude da vida é algo que, como diz o Personagem Chicó de Ariano Suassuna (1955), em sua obra imortal, o Auto da Compadecida, “o único mal irremediável, aquilo que é a marca do

nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre”. Mal irremediável!? Há controvérsias.
Se há algo em que todas as religiões do mundo são quase absolutamente unanimes, é sobre a continuidade da existência após a morte. Seja igual à vida neste plano ou de outra maneira, em outra forma. As promessas são muitas. Paraíso, virgens, riquezas. Se as possibilidades são incríveis, então por que temos tanto medo da morte? Por que ainda é algo tão temido e encarado quase sempre com imensa tristeza no mundo ocidental? O fato é que no frigir dos ovos, a única certeza de que temos em vida é que um dia iremos morrer e ponto! O resto são conjecturas. É possível que nossos temores venham da nossa fé abalável ou, para os ateus e agnósticos, da falta de conhecimento daquela matéria do sexto ano, “o ciclo da vida”. Afinal de contas, para quem foi um bom aluno em ciências sabe que a morte é extremamente importante para a continuidade da vida aqui na terra. Seria de no mínimo um egoísmo pecaminoso querer viver para sempre e reter toda matéria para si, inviabilizando o ciclo infinito da vida em nosso planeta por não querer devolver o que fora apenas emprestado. Na realidade, é que sendo ou não religioso, devemos desmistificar a morte para nós mesmos e principalmente para nossos filhos. Já que em boa parte das vezes, as crianças ainda não passaram pela experiência da “perda”. Claro, pedimos aos céus que a ordem cronológica da morte siga seu curso. Sendo assim, inevitavelmente os pais e os avós estarão na ponta da fila para a partida.
Sobre isso, ninguém melhor que nossos “pets” para ensinar a nós e nossos filhos que a morte faz parte da jornada da vida e está muito além do fim. Ao dar um peixinho, um cachorrinho ou outro animalzinho que geralmente vive menos que nós, além de levarmos alegria e mais vida para nossa casa e para nossa família, eles acabam também nos ensinando que a morte faz parte de nossa existência e é natural e necessária para todos os seres. A lição se torna ainda mais impactante e surpreendente quando adicionamos amor a um novo “amiguinho” quando este, vem inofensivamente preencher o espaço deixado por aquele nosso amado animalzinho que acabara de partir. Se o novo “pet” for um filhotinho, a experiência se torna também didática, pois a existência do novo amiguinho só foi possível diante da partida de seu antecessor, devolvendo assim toda matéria necessária para continuidade da vida. Há então um pedacinho do nosso antigo amiguinho fazendo parte do novo membro da família. Acabamos por aprender que a vida é apenas uma etapa da infinita jornada de todos os seres.
Não devemos então, encarar a morte como algo ruim, o fim de tudo! Muito pelo contrário. Nossa obrigação como seres espiritualizados, escrevo isso no sentido mais amplo da palavra, conscientes e cheios de energia, é aceitar que a matéria e a energia ou alma para as pessoas de fé, são duas coisas infinitas, em constante movimento e transformação. Segundo Lavoisier, de um jeito ou de outro, sempre continuarão a existir. É pertinente dizer que aceitar a finitude da vida e encará-la com naturalidade, pois de fato a morte é sim algo natural, não tem nada a ver com deixar de sentir saudades dos entes que se foram. A saudade é infelizmente ou felizmente um sentimento, algo intrínseco e inerente aos seres humanos. E esta, somente o tempo é capaz de curar. Então aproveite a vida, não deixe de viver diante do medo da morte. Mas se cuide, faça exercícios, obedeça às leis de trânsito, tenha hábitos saudáveis, passeie bastante e seja uma boa pessoa. Não desperdice seu tempo aqui neste plano com tristezas, ressentimentos e arrependimentos. Faça o certo e ensine isso a seus filhos. Mas lembre-se, a vida é algo emprestado! E o que nos é emprestado devemos cuidar sempre com muito carinho.
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