Apenas mais uma história de assombração
- Ibrahim M. Alves
- 15 de mai.
- 3 min de leitura

Quem nunca participou de uma prosa sobre fantasmas na boca da noite entre amigos ou familiares, seja numa roda de conversa à beira do fogão a lenha ou em volta de uma fogueira aconchegante sobre o brilho das estrelas não sabe o que está perdendo. Se trata de um momento quase poético, onde alimentamos nossa imaginação, experimentamos sensações, nos sentimentos deliciosamente desconfortáveis, e assim, de forma segura confrontamos nossos medos, exploramos nossa curiosidade e por fim, acabamos por degustar um pouco de adrenalina diante dessas amedrontadoras histórias.
A temática é vasta, temos dezenas de contos assustadores envolvendo criaturas mitológicas de diversas culturas, com seus simbolismos e apelos religiosos. O fato é que para muitas dessas histórias, há por trás fenômenos naturais interessantes, que muitos de nós desconhecemos e que ciência consegue facilmente explicar. Muitas dessas “lendas” aterrorizantes das quais muitas nuances são apresentadas em cada nova história, são variantes de um único fenômeno. Afinal de contas, “quem conta um conto sempre aumenta um ponto”, diz o ditado.
Particularmente, uma das histórias de terror que mais me chamavam a atenção quando criança, era o conto sobre uma “entidade” da floresta com a forma de serpente flamejante de vários olhos e que também cuspia fogo. Esta, sempre perseguia os desavisados pelas florestas. A perversa criatura também era apresentada em outros contos como um espírito inquieto da floresta que paralisava suas vítimas com sua deslumbrante cor azulada fantasmagórica. À beira da estrada de chão batido ou em alguma encruzilhada, sentada sobre uma velha porteira de madeira apodrecida, ela assim, aguardava as inocentes almas para alimentar sua insaciável fome. O mais legal, é que sempre havia um “doguinho” envolvido na história, que, entre latidos e "choramingos" era o primeiro a sentir o “malévolo” espírito, vulgo Boitatá.
Belas, ou não tão belas assim, essas histórias fizeram parte dos melhores momentos da minha infância. Minhas avós eram enciclopédias de contos assustadores. Amava passar horas ouvindo as histórias de quando eram crianças na roça. A família toda, tios, primos, irmãos e meus pais se juntavam à roda de prosa e as horas passavam como segundos noite adentro. Lembranças que hoje, guardo com carinho.
Deixando de lago a nostalgia, vamos aos fatos. O Terrível Boitatá e suas nuances, são personagens facilmente desmistificados pela ciência. Acho até que diante disso, a ignorância talvez seja em alguns momentos, um privilégio e que a ingenuidade da infância acaba por deixar a gente sempre mais feliz e maravilhado com os mistérios do universo.
A morte de um animal em meio a floresta, o material orgânico que ali se deposita, como folhas, troncos e excrementos que em determinados períodos são encobertos por lama de erosões e chuvas fortes, entram em decomposição. O metano produzido oriundo dessa decomposição promovida por ação microbiana, sob pressão, rompe o solo endurecido e o atrito produzido aliado ao oxigênio do ambiente acaba gerando calor suficiente para a ignição. Pronto! Temos então uma labareda azulada que em alguns casos é acompanhada de um aterrorizante assobio (efeito sonoro do atrito entre o solo e o gás metano), dançando de um lado para outro diante do vento noturno, dando “botes” como uma serpente enfurecida. Já o resto, é o que nossa imaginação quiser que seja.
Por fim, finalizo aqui este “dedo de prosa” levantando uma questão. Já teve a oportunidade de se sentar junto aos seus filhos e sobrinhos em um ambiente temático e contar algumas histórias de fantasmas? Se não, não perca tempo! Junte a família e amigos e venha “pra” roça, aqui as histórias contadas são muito mais legais e os momentos vividos são ímpares!
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